Divertida, bela e profunda, peça
mostra já no título a inversão humana
José Ortiz Camargo Neto
Eis aqui um espetáculo de consciência, que enaltece o teatro nacional e premia quem o assiste.
Capaz de despertar ternura, riso e, sobretudo, reflexões, com uma mensagem crítica, mas otimista, une o
clássico ao moderno e põe nos dias de
hoje o mesmo drama humano universal, vivido pelos personagens de Mollière, no
século 17: a mania de doenças, a supervalorização indevida da Medicina e a cura que vem pelo contato do ser humano com seu próprio interior.
Sob
a direção inteligente, sensível e criativa da renomada atriz Sandra Corveloni
(prêmio de melhor atriz no Festival de Cannes de 2008), e contando com um corpo
de atores talentosos (Cia d’Alma), nada escapou ao esmero artístico que
envolveu todo o grupo: do roteiro profundo e conscientizador, ao empenho vibrante dos atores, da originalidade da sonoplastia à
beleza das músicas e comovente poesia das canções, tudo resultou num efeito
estético que perdura agradavelmente no espírito. “Acredito na força transformadora da arte”,
disse Corveloni – e a verdade é que depois de assistir esta peça ninguém saírá
do teatro sendo a mesma pessoa.
Texto científico contemporâneo
O Desejo da
Fórmula Mágica,
de Cláudia Bernhardt Pacheco,
contribuiu para o desenvolvimento
da trama, segundo Sandra Corveloni
A encenação se baseia no “Doente Imaginário” de Mollière, escrita no sec. 17, comédia em que satirizava a medicina, mas não se restringe a ela; antes utiliza vários outros escritos do comediante francês, bem como textos da atualidade, para mostrar o relacionamento do ser humano com a medicina, consigo mesmo e com a hipocondria. Um desses textos, “O Desejo da Fórmula Mágica”, de Claudia Bernhardt Pacheco, publicado em seu livro "De Olho na Saúde" (www.editoraproton.com.br) e reproduzido no jornal STOP ( www.stop-jornal.blogspot.com.br ), (www.stop.org.br) serviu de base para mudanças no
roteiro e foi transcrito inteiramente no programa da peça distribuído ao público.
Segundo Sandra, a peça enfoca “essa mania que a gente tem de querer um
remédio para tudo, uma fórmula mágica". Mas a principal mensagem é que a
cura pode vir do autoconhecimento e de uma nova postura diante da vida, como
acontece com o doente da peça, que primeiro de forma muito engraçada, toma “um
choque de realidade”; depois, de maneira intensamente poética, descobre toda
sua hipocondria. A partir daí, sua vida muda completamente, o que é mostrado de
um modo inesperado e divertido.
A beleza e a força deste espetáculo mostra não ter sido por acaso
que a montagem de "L’Illustre
Molière" , encenada pela mesma Cia D’Alma, sob direção da mesma Sandra
Corveloni, terminou 2012 qualificada como uma das melhores do ano. Esta nova
peça “Doente” vem como uma evolução daquela, demonstrando que a força do grupo
e de sua diretora apenas começou sua provável longa lista de sucessos.
ONDE: Teatro
Aliança Francesa (Rua General Jardim, 182, V. Buarque, tel. 3017-5699) 5ª e 6ª.
às 21 horas, R$ 40. Até 29/11
Veja entrevista com a diretora Sandra Corveloni e a atriz Lara Hassun no link:http://www.youtube.com/watch?v=-pw_-07neos
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