terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Surtos de Diarreia: Muito Além da Virose

José Ortiz Camargo Neto

Surtos de diarreia, conjugados a vômitos, dores corporais e outros sintomas estão se tornando cada vez mais comuns - e é preciso analisá-los sob um novo prisma, ultrapassando as clássicas análises bacteriológicas de água e alimentos, para atingir o campo da poluição invisível dos agrotóxicos.

(Este é um artigo que publiquei há tempos, mas de modo algum perdeu a atualidade).

Em dezembro passado  noticiamos um surto de diarreia, vômitos, dores corporais, fraqueza, desmaios e outros sintomasque atingiu a população de uma pequena cidade turística do Sul de Minas no feriado de Finados. Estávamos na cidade, que segundo moradores foi atingida em mais da metade da população, de 12 mil moradores. O número oficial de atendidos foi de 396 pessoas.O médico dr. Roberto Giraldo, pesquisando o surto, concluiu que era devido a uma intoxicação química. Nossa reportagem apurou que os agrotóxicos mais usados na cidade (Baysiston,da Bayer, e Roundup, da Monsanto) provocam os mesmos sintomas que a cidade teve, em caso de intoxicação - que se dá por meio de alimentos, água ou ar agrotoxicados. Dias depois, um surto semelhante atingiu Orito na Colômbia - e uma das hipóteses foi de intoxicação por glifosato, que é a base do Roundup, usado na pulverização das plantações de coca. (leia notícia na íntegra em http://stopartigos.blogspot.com/2009/12/perigo-na-mesa-brasil-e-o-campeao.html

Pouco tempo depois, dando aula em São Paulo, soube por uma aluna que um surto semelhante havia atingido parte da cidade de São Carlos, no interior paulista, mas não foi noticiado.

Dias após, um amigo meu, engenheiro agrônomo que pratica a agroecologia (agricultura orgânica) escreveu-me contando que ele e um colega foram hospitalizados em Itapeva depois de comerem um simples pêssego convencional (comprado no supermercado e cultivado com agrotóxivos). A crise de diarreia e vômitos que tiveram foi atribuída pelo médico como intoxicação por agrotóxico - mas apenas como uma possibilidade.

No Natal passado fomos com um grupo de amigos passar o feriado em Visconde de Mauá - e um surto de diarreia atingiu também a cidade, a ponto de quase esgotar os remédios das farmácias. Conforme apuramos, na cidade turística não há agricultura e a água é boa, da serra. Mas os alimentos são comprados de outras cidades, onde se usam agrotóxicos. Uma delas é Resende, famosa por possuir fábricas de venenos agrícolas. Um famoso acidente em uma delas, contaminou as águas do rio Paraíba.

Em São Paulo também são comuns esses surtos, mas não ganham publicidade porque cada pessoa atingida pensa que só ela teve algum problema devido a algum alimento estragado que ingeriu - não havendo uma pesquisa mais aprofundada sobre o assunto. Segundo meu amigo, o médico Ademar Monteiro, que trabalha num grande hospital em São Paulo (cujo nome declino porque ele fala em seu nome, não da instituição), "a principal causa de entrada no pronto-socorro ou nas consultas são os surtos de diarreia e vômitos. Eles correspondem a mais da metade dos atendimento."

Aliás, este distúrbio é a principal causa de morte de crianças até 5 anos, no mundo todo, situação que não se resolve enquanto não for tratada de modo certo, pelas suas causas reais e não imaginárias.

Finalmente leio nos jornais de hoje  que um surto de diarreia e vômitos atingiu "pelo menos 1500 pessoas" (números oficiais) na cidade do Guarujá, litoral paulista, sem que ninguém mencionasse a questão da presença de agrotóxicos nos alimentos ou na água servidos na cidade.

Mais comum do que os surtos é a mesmice das explicações, que quase sempre lemos nas mídias: trata-se de um problema de virose, ou de bacilos, ou bactérias, água suja com coleiformes fecais , alimentos estragados. Vêm em seguida as também clássicas soluções: vacinar e medicar a humanidade inteira, para alegria das grandes farmacêuticas.

E quase nunca se fala do problema crucial da "poluição invisível", presente na água e alimentos, que provoca diarreias, vômitos, dores corporais, fraqueza, hepatite, problemas pulmonares , câncer e morte: os agrotóxicos que estão cada vez mais presentes na mesa das pessoas em todos os lares do mundo, também para alegria da "big farma". Basta dizer que muitas das companhias farmacêuticas, como a Bayer, são fabricantes de venenos agrícolas.

Um comentário:

  1. Interessante a matéria, todo mundo associa às viroses, mas o agrotóxico pode ser considerado também como causa. Teremos um evento aqui no tecnopuc dia 04/10/12 sobre o assunto www.ozengenharia.com.br/eventos Abraços.

    ResponderExcluir